sexta-feira, 14 de junho de 2013

Marco Zero

por Ricardo Guedes
 
As pesquisas recentemente divulgadas dão o marco zero das eleições presidenciais de 2014.

O decréscimo da popularidade de Dilma Rousseff para 55% positivos fica abaixo do patamar dos 65%, como garantidor de vitória em pleitos eleitorais.

O crescimento do PIB de 1% e a inflação de 6% em 2012, com resultados análogos para 2013, geram a diminuição do poder de compra da população, com parte do eleitorado retornando hoje à linha de pobreza.

Vivemos uma inflação de demanda, onde a equipe econômica do governo não desarmou a política de crédito a tempo hábil, com estagflação. O percentual de participação do consumo dos indivíduos no PIB cresceu de 5% para 15% nos últimos 10 anos, chegando ao patamar das economias em geral, com o esgotamento do modelo de crescimento.

Os efeitos da inflação vão perdurar, independentemente da amplitude das políticas fiscais introduzidas, com a tendência de decréscimo ainda mais acentuado da popularidade de Dilma Rousseff até o final do ano.

Na pesquisa espontânea, o número de eleitores sem candidato chega a cerca de 60%, com Dilma Rousseff na casa dos 30%, pouco para uma governante em exercício.

Nas projeções da pesquisa para os eleitores que citam conhecer os candidatos, há forte indicação da tendência de 2º turno, em eleições ainda não definidas.

Em grupos de discussão, verifica-se o relativo cansaço com o que os grupos denominam de o “Bolsa Tudo”. O programa Bolsa Família é positivamente avaliado, mas com necessidade de fiscalização, e sem representar uma solução econômica para o país.

Observa-se a demanda e a crítica em relação à falta de investimentos em infraestrutura, e a necessidade de produtividade no Brasil.

A educação é requerida como instrumento de formação profissional e mobilidade social, com a demanda por saúde como problema de longe não resolvido ou enfocado.

As expectativas ficam menos positivas em relação à renda, emprego, saúde, educação e segurança, com abertura para a possibilidade de mudança de paradigma.

As eleições municipais de 2012 trouxeram um aviso e prenúncio que devem ser levados em conta. Em municípios como Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Fortaleza, os candidatos do PT não obtiveram a vitória.

Em São Paulo, após o crescimento e queda de Celso Russomano como 3ª via, tivemos o 2º turno com candidatos com rejeições acima de 40%, sendo escolhido o de menor rejeição, em eleição aonde o índice de abstenção, brancos e nulos chegou a 32% do eleitorado paulistano, em marca recorde.

O ponto de equilíbrio do voto nesses municípios foi alterado, pendendo para mudanças de perspectivas.

O brasileiro avalia hoje positivamente os benefícios obtidos nos últimos 10 anos, mas deseja o crescimento do país com educação, saúde, infraestrutura, produtividade e segurança, em quadro de estabilidade econômica, política e social.

Com a eleição de 2014 deflagrada, as projeções indicam o crescimento de Aécio Neves como opção de oposição, Eduardo Campos como liderança regional, e Marina Silva concatenando o imaginário romântico de parte do eleitorado.

São pontos de partida em uma eleição ainda não definida, onde os atores passam a ter elementos objetivos para o cálculo político. São eleições onde os erros e acertos se farão fundamentais, onde muita água há de rolar.

Estamos no marco zero. A ver.

Ricardo Guedes, Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, é Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisa Sensus.

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