Não basta ser a sexta
maior economia do mundo. Para ganhar influência geopolítica, o
Brasil ajuda outros países a implantar programas sociais, como o
Bolsa Família.
Sexta maior economia do mundo, mercado consumidor em ascensão,
uma agricultura moderna e referência em programas de transferência de
renda. O sucesso do modelo brasileiro na gestão dos problemas sociais
vem levando o País a “exportar” suas melhores práticas para países menos
desenvolvidos. Programas, como o Luz para Todos, o Bolsa Família e o de
tratamento da Aids, estão entre os mais procurados. Há também interesse
nas técnicas e sementes agrícolas desenvolvidas pela Embrapa. Desde
2009, o número de acordos dobrou, totalizando 692 no ano passado,
beneficiando 65 países.
Embora
a troca de experiências não tenha motivação comercial – ao
contrário, o governo federal inclusive desembolsa recursos nessas
transferências –, o Brasil consegue ampliar sua influência
internacional ao oferecer seu conhecimento a outros países. “Com
políticas sociais inclusivas e uma política externa atuante, o
Brasil ganha mais espaço no cenário internacional”, diz Marco
Farani, diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC). A área
que mais desperta interesse dos vizinhos latino-americanos e dos
africanos é a agricultura. A experiência da Embrapa, uma empresa
estatal de pesquisa agropecuária, já foi compartilhada com 21
governos.
Com
clima tropical parecido com o do Brasil, esses países se interessam
em aprender técnicas de plantio, manejo e controle de pragas em
mandioca, arroz, milho, soja, frutas e algodão. No Mali, no noroeste
da África, por exemplo, a Embrapa desenvolveu dez variedades de
algodão. Em junho, será concluído um projeto com os produtores
cubanos de soja e milho, que se tornarão autossuficientes. “Focamos
nos projetos que trazem maior ganho de produtividade”, diz o
coordenador de Cooperação Técnica da Embrapa, Antônio Carlos
Prado. O Ministério da Saúde também exporta programas de prevenção
e combate a Aids, banco de leite humano e vacinas contra a malária.
No
ano passado, foram implantados 115 projetos de cooperação técnica
na América Latina, na África e no Oriente Médio. “A intenção é
aumentar a capacidade de produção de medicamentos e vacinas para o
Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil e em outros países”,
afirma o ministro Alexandre Padilha. A principal ação nessa área
destina R$ 135 milhões ao Haiti para construir postos de
atendimento, formar profissionais e instalar o Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu) até 2014. Além disso, está
sendo construído um laboratório em Moçambique, com capacidade para
produzir 450 milhões de medicamentos ao ano, com investimento de R$
13,6 milhões.
Com
25 projetos, Moçambique é o campeão de acordos. Um deles é para
replicar o Luz para Todos, programa que desde 2003 já beneficiou 15
milhões de brasileiros. O Ministério de Minas e Energia também
exporta a iniciativa para Peru, Colômbia e Guatemala. Outros 14
países, entre eles China, Índia e Argentina, estão prestes a
firmar acordos. “O modelo brasileiro de universalização de
energia é coqueluche no mundo”, diz o ministro Edison Lobão, que
foi convidado pela ONU para ser consultor de energias renováveis e
universalização. É dessa forma que o governo ganha capital
político para aumentar sua influência em organismos internacionais
e emplacar o selo de país solidário ao desenvolvimento econômico e
social no mundo. Outro programa que ganhou fama internacional é o
Bolsa Família, adotado por mais de 60 países, além de cidades como
Nova York.
“Nosso
principal objetivo é ensinar a tecnologia de gestão em assistência
social”, diz Rômulo Paes, secretário-executivo do Ministério do
Desenvolvimento Social. Em alguns casos, quando se trata de países
com poucos recursos, o governo brasileiro precisa fazer praticamente
tudo. Paes cita um projeto em Gana, na África, em que o País
financiou o maquinário para produtores rurais, organizou
cooperativas e doou sementes. Além disso, ajudou a implantar por lá
o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), no qual o governo
brasileiro compra alimentos de agricultores familiares para abastecer
restaurantes populares. Apesar dos gastos, a “balança comercial”
dos programas sociais é amplamente superavitária para o Brasil.
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