quarta-feira, 23 de maio de 2012

Governo para exportação

Não basta ser a sexta maior economia do mundo. Para ganhar influência geopolítica, o Brasil ajuda outros países a implantar programas sociais, como o Bolsa Família.

Sexta maior economia do mundo, mercado consumidor em ascensão, uma agricultura moderna e referência em programas de transferência de renda. O sucesso do modelo brasileiro na gestão dos problemas sociais vem levando o País a “exportar” suas melhores práticas para países menos desenvolvidos. Programas, como o Luz para Todos, o Bolsa Família e o de tratamento da Aids, estão entre os mais procurados. Há também interesse nas técnicas e sementes agrícolas desenvolvidas pela Embrapa. Desde 2009, o número de acordos dobrou, totalizando 692 no ano passado, beneficiando 65 países.

Ideias de Brasília: (da esq. para a dir.) Os ministros Alexandre Padilha, da Saúde,
Edison Lobão, de Minas e Energia, Antonio Patriota, das Relações Exteriores,
e Tereza Campello, do Desenvolvimento Social.
Embora a troca de experiências não tenha motivação comercial – ao contrário, o governo federal inclusive desembolsa recursos nessas transferências –, o Brasil consegue ampliar sua influência internacional ao oferecer seu conhecimento a outros países. “Com políticas sociais inclusivas e uma política externa atuante, o Brasil ganha mais espaço no cenário internacional”, diz Marco Farani, diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC). A área que mais desperta interesse dos vizinhos latino-americanos e dos africanos é a agricultura. A experiência da Embrapa, uma empresa estatal de pesquisa agropecuária, já foi compartilhada com 21 governos.

Com clima tropical parecido com o do Brasil, esses países se interessam em aprender técnicas de plantio, manejo e controle de pragas em mandioca, arroz, milho, soja, frutas e algodão. No Mali, no noroeste da África, por exemplo, a Embrapa desenvolveu dez variedades de algodão. Em junho, será concluído um projeto com os produtores cubanos de soja e milho, que se tornarão autossuficientes. “Focamos nos projetos que trazem maior ganho de produtividade”, diz o coordenador de Cooperação Técnica da Embrapa, Antônio Carlos Prado. O Ministério da Saúde também exporta programas de prevenção e combate a Aids, banco de leite humano e vacinas contra a malária.

No ano passado, foram implantados 115 projetos de cooperação técnica na América Latina, na África e no Oriente Médio. “A intenção é aumentar a capacidade de produção de medicamentos e vacinas para o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil e em outros países”, afirma o ministro Alexandre Padilha. A principal ação nessa área destina R$ 135 milhões ao Haiti para construir postos de atendimento, formar profissionais e instalar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) até 2014. Além disso, está sendo construído um laboratório em Moçambique, com capacidade para produzir 450 milhões de medicamentos ao ano, com investimento de R$ 13,6 milhões.

Com 25 projetos, Moçambique é o campeão de acordos. Um deles é para replicar o Luz para Todos, programa que desde 2003 já beneficiou 15 milhões de brasileiros. O Ministério de Minas e Energia também exporta a iniciativa para Peru, Colômbia e Guatemala. Outros 14 países, entre eles China, Índia e Argentina, estão prestes a firmar acordos. “O modelo brasileiro de universalização de energia é coqueluche no mundo”, diz o ministro Edison Lobão, que foi convidado pela ONU para ser consultor de energias renováveis e universalização. É dessa forma que o governo ganha capital político para aumentar sua influência em organismos internacionais e emplacar o selo de país solidário ao desenvolvimento econômico e social no mundo. Outro programa que ganhou fama internacional é o Bolsa Família, adotado por mais de 60 países, além de cidades como Nova York.

Nosso principal objetivo é ensinar a tecnologia de gestão em assistência social”, diz Rômulo Paes, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Social. Em alguns casos, quando se trata de países com poucos recursos, o governo brasileiro precisa fazer praticamente tudo. Paes cita um projeto em Gana, na África, em que o País financiou o maquinário para produtores rurais, organizou cooperativas e doou sementes. Além disso, ajudou a implantar por lá o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), no qual o governo brasileiro compra alimentos de agricultores familiares para abastecer restaurantes populares. Apesar dos gastos, a “balança comercial” dos programas sociais é amplamente superavitária para o Brasil.


Fonte: Revista Isto é Dinheiro

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