Por Maria Mello e Pedro Carrano
“Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”. A
frase do pensador grego Arquimedes, construída na Antiguidade Clássica,
poderia sintetizar o caminho apontado pelos debates promovidos no 1º
Encontro Mundial de Blogueiros, que aconteceu em Foz do Iguaçu (PR)
entre os dias 27 e 29 de outubro.
Ao longo dos dois dias de evento, os cerca de 500 participantes de 23
países e de 17 estados brasileiros reforçaram a importância da
utilização das novas mídias, como os blogs e as redes sociais, no
sentido de incluir novos atores políticos no processo de ampliação da
democracia e de transformações sociais.
Para trocar experiências e discutir a utilização dessas ferramentas e
da atuação da chamada “blogosfera” no âmbito da luta sindical, diversas
entidades cutistas participaram do encontro.
Leia abaixo entrevista com a secretária nacional de comunicação da CUT, Rosane Bertotti.
Por que é importante que o movimento sindical participe de um espaço como esse?
O movimento sindical tem de estar integrado a toda ação política de
seu país, porque o que tem a ver com o mundo do trabalho e dos
trabalhadores. E esse tema das novas mídias, dos blogs, é questão
estratégica. Para a CUT, a comunicação em si é uma questão estratégica,
no viés da democratização da comunicação e no viés da própria estrutura
interna, de dialogar com sua base.
Estamos aqui aprendendo com experiências de outros países e afinando
relação com o mundo dos blogs, afirmando nossa posição em relação à luta
pela democratização da comunicação. Por isso o movimento sindical tem
de estar articulado com o mundo dos blogueiros e das novas mídias.
Na realidade brasileira, para uma série de segmentos, parece
que esse ainda é um debate inacessível, a grande mídia ainda está
pautando os temas, a visão de mundo para uma grande parte da classe
trabalhadora no Brasil. Como você vê isso?
Hoje o papel das novas mídias consegue fazer contraposição à velha
mídia, mas ainda está muito aquém daquilo que o Brasil e os
trabalhadores precisam.
Há uma grande parte dos trabalhadores que conseguiu perceber as novas
tecnologias, se articular nas redes sociais, buscar essa informação.
Mas ainda há uma grande massa, que é maior do que a primeira, que ainda
está pautada pela imprensa tradicional. Temos de continuar fazendo
investimentos nas novas mídias e redes, mas não podemos abandonar
bandeiras históricas de democratização da comunicação. A luta seria
outra se, por exemplo, o Movimento Sem Terra tivesse um canal de
televisão. A luta da CUT seria outra se tivesse um canal. Precisamos
continuar investindo nas redes porque é um mecanismo que nos facilita e
que está mais ao nosso alcance, mas precisamos através disso mobilizar a
luta. O marco regulatório, mudanças nas concessões, mudança no
financiamento público nas estatais, o Plano Nacional de Banda Larga,
tudo isso tem de estar na nossa pauta porque elas se articulam entre si.
Como você vê o risco de que as novas mídias sejam vistas como fins em si mesmas, em vez de instrumentos de ação?
Não sou das pessoas que acham que pela internet se resolve tudo. Sem
acesso a internet, não tem como articular, buscar informação. A partir
da internet você ramifica sua ação, mas ação é com o povo na rua.
Internet é um instrumento para chamar, mas a mobilização se faz com o
calor do povo, com ginga, com raça, é dessa forma que vamos articular a
luta. Vamos fazer dessa ferramenta um instrumento, porque a luta não vai
se dar só nas redes sociais.
Isso cria referência para a juventude, tendo em vista que boa parte da classe trabalhadora hoje é jovem?
Se você olhar para o público que está aqui, a maioria é jovem. Há um
público ressurgindo que vem através das redes sociais. A nossa juventude
viveu uma certa efervescência no período anterior à ditadura, do
movimento estudantil, de construção das bases dos movimentos sociais,
que deu origem a grandes partidos e movimentos, que deu origem à CUT, ao
MST. Só que aquilo foi uma efervescência. Eu tenho uma filha que tem
hoje 20 anos e quando ela começou a viver esse mundo todas essas
mobilizações já tinham passado. Ela tem de ressignificar sua ação
enquanto jovem para se colocar em luta e em um processo de mobilização,
acho que as redes sociais cumprem esse papel. Agora, volto a frisar, ela
não pode ser apenas um espaço de rede por si, na sua horizontalidade,
precisa estar articulada com uma ação porque senão se tornará a ação. Os
princípios, a ideologia, o que nos move, o que movia as pessoas antes
da ditadura, a democracia, muitos desses princípios nos movem até hoje.
Mas as formas de agir são diferentes ao longo do tempo.
Se você olhar para o movimento sindical, quando a CUT nasce, você
fazia o movimento na porta da fábrica. Hoje você não consegue fazer
movimento na porta da fábrica apenas. Você tem de estar dentro da
fábrica, tem de estar no local de trabalho, dialogar com o trabalho que
está na sua casa com sua família, na comunidade onde ele vive, com o
círculo de convivência do trabalhador, e as redes sociais possibilitam
isso. Mas o que nos move e sempre nos moveu são os objetivos da
democracia, do trabalho decente e digno, do ser humano. Esses princípios
têm de estar presentes, e quando você consegue articular com esses
novos elementos e com a juventude é muito bom.
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