terça-feira, 2 de agosto de 2011

Governo torce para que sindicalismo perca força com desaceleração

Os reajustes salariais do segundo semestre não pressionarão a inflação. Essa é a avaliação da equipe econômica do governo — que vê a desaceleração da atividade como um fator de redução do "poder de manobra" dos sindicatos. É justamente por isso que o governo Dilma torce.

A inflação acumulada nos 12 meses terminados em setembro e outubro pode beirar 7,5%, o que "inibirá", segundo entendem os economistas do governo, a concessão de reajustes reais de 3% ou 4% por parte das empresas, como ocorreu em igual período de 2010.

Esse cenário, no entanto, é totalmente descartado por metalúrgicos, petroleiros, bancários e comerciários — que começarão, nas próximas semanas, a negociar reajustes nos salários, bônus e Participação sobre Lucros e Resultados (PLR).

Segundo economistas do governo, as pressões que elevaram a inflação no primeiro semestre não se sustentarão no segundo. A redução de preços dos alimentos no mercado internacional será reforçada por um cenário em que as negociações salariais das principais categorias, cujas datas-base concentram-se entre agosto e novembro, registrarão resultados fracos.

Nos 12 meses terminados em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), utilizado nas negociações entre empresários e sindicalistas, acumulou 6,8%. Ainda que registre variações pequenas em julho e agosto, como estima o mercado, o INPC deve atingir taxa próxima a 7,5% entre setembro e outubro — a maior, se alcançada, desde dezembro de 2003.

Essa é a previsão que o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) transmitiu aos sindicatos. Em igual período do ano passado, o INPC acumulou 4,3%. Para Sergio Mendonça, supervisor técnico do Dieese, a inflação mais elevada torna mais complexa a conquista de acordos reais elevados, mas, ao mesmo tempo, "falamos de setores pressionados pela falta de mão de obra qualificada e crescendo ainda em ritmo mais acelerado que a economia, como bancos, comércio e as indústrias automotiva e química", diz.

Mendonça faz um exercício lógico: se o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC reduzir pela metade o ganho real conquistado em 2010, de 4,5%, e fechar um reajuste próximo a 2,5% acima da inflação em setembro, o repasse nominal nos salários dos 108 mil metalúrgicos representados pelo sindicato será de 10%. "Um reajuste de dois dígitos, na categoria que é utilizada como exemplo no movimento sindical, produzirá um efeito poderoso sobre as outras negociações."

Para Sergio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a entidade não será "irresponsável" na campanha salarial, demandando um reajuste além dos ganhos de produtividade das montadoras e fabricantes de autopeças da região. "Os sindicatos são os maiores interessados no controle da inflação, porque o trabalhador, diferentemente do investidor e do empresário, não consegue se proteger da perda do poder de compra", afirma Nobre, para quem, no entanto, "uma elevação real, abaixo da produtividade, não gera inflação, e, portanto, deve ser perseguida como meta".

Já os 480 mil bancários brasileiros podem esperar uma campanha salarial acirrada, alerta Carlos Cordeiro, coordenador da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf). A entidade comandou, no ano passado, as greves e paralisações nas agências, em busca de acordo que terminou por reajustar os salários da categoria em 7,5% — 3,2% acima da inflação.

"O presidente do Banco Central adotou o discurso dos bancos, ao defender que os sindicatos negociem com a expectativa de inflação futura, não a passada", diz Cordeiro. "A expectativa do BC para a inflação neste ano era de 4,5%, e hoje já está beirando 7%. Seria um suicídio sindical adotar essa diretriz", afirma.

A Federação dos Empregados do Comércio no Estado de São Paulo — que representa 2 milhões de trabalhadores — tentará conseguir neste ano 5% de reajuste real. O salário médio da categoria no estado é de R$ 900. No ano passado, os comerciários paulistas tiveram aumento de 3% acima da inflação. "Achamos que neste ano vai ser mais difícil, mas estamos mais mobilizados", conta Luiz Carlos Motta, presidente da entidade.

Para o diretor de relações sindicais do Sindicato dos Comerciários da cidade de São Paulo, Josimar Andrade de Assis, o "momento maravilhoso" vivido pelo setor pode compensar parte da dificuldade em conseguir o aumento pedido neste ano. "Temos quase um pleno emprego. É só sair em um shopping, ou mesmo nas ruas do comércio, que sempre tem em alguma vitrine aquela plaquinha de admissão", o que, em sua opinião, daria um maior poder de barganha aos trabalhadores, mesmo com "todo esse discurso" contra reajustes reais mais robustos. O sindicato representa 450 mil comerciários no município, cujo salário médio é de R$ 1.015.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP), que negocia o salário de 70 mil trabalhadores da Petrobras em todo o país, ainda não tem definido o percentual de reajuste real a ser pedido neste ano, com data-base em 1º de setembro, mas certamente irá reivindicar aumento superior à faixa de 3,5% a 5%, concedida no ano passado. "A sinalização é que neste ano vai ser mais difícil conseguir negociar um bom reajuste, pela conjuntura econômica do país", avalia o coordenador da FUP, João Antônio de Moraes.

"A ideia de que aumento salarial gera inflação com certeza é um dificultador, mas isso não passa de uma mentira. Nos últimos oito anos, tivemos aumento real e nem por isso a inflação explodiu", emenda o dirigente. Mas, segundo Moraes, as boas condições vividas podem influenciar na hora de fechar o acordo, já que o setor petroleiro está em plena expansão e precisa de mão de obra qualificada.

Da Redação, com informações do Valor Econômico

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